sábado, 20 de junho de 2009

(Apenas dois parênteses)


Vejo-me em uma crise que vai bem mais além da crise dos vinte-e-poucos-anos.
É uma crise de identidade. Uma crise de existência. Uma crise de insistência!

Mas, tudo evolui, inclusive eu:
-Aceitar que o Futuro do Pretérito também pode ser conjugado.
-Diminuir o ritmo, aumentar a intensidade.
-Se livrar do excesso de carga e esquecer as coisas certas.
-Não existe prêmio para quem doa amor.
-Ser feliz é uma questão de perspectiva...

(De repente, você se depara no meio do mar, literalmente. Com a melhor comida de sua vida, percebendo a leveza das gaivotas brincando no ar, desfrutando de uma companhia maravilhosa, e aí? Aí percebe que se tem muito mais a viver do que você supunha. Que se nasce todos os dias, que o hoje é tudo o que você tem e viveu nessa vida. E que, como diria Vinícius, ainda há tempo para 'amar, viver, sofrer'...)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Grande Pátria Desimportante, Eu Não Vou Te Trair!


Ser brasileiro é mais que uma benção. É um dom. Chega a ser um carma.
Estou tendo a oportunidade de refletir sobre isso e desabafo: é incrível como nos deixamos contagiar pelo jeitinho brasileiro.
O Brasil só não é democrático em suas políticas públicas, infelizmente. Aqui tem lugar para todas as tribos, guetos, parcerias e combinados. Os braços do Brasil são os maiores do mundo. Temos belezas naturais, como a mulher-melancia e os laranjas que atravessam clandestinamente a Ponte da Amizade todos os dias. Temos o Cinema Novo, a Pornochanchada, o samba de raíz e o de gafieira. Temos ainda o bom ritmo do funk com suas desprezíveis letras, e as belíssimas composições da MPB em pobres remixagens. O Brasil é um país onde o ilícito se tornou natural e tolerado e o sorriso das nossas crianças estão forçados e reprimidos. O luxo e o lixo se confundem e se resignificam o tempo todo.
É um país de contrastes: da seca do Nordeste e das cheias no sul. Aboliu a escravatura em 1888 e hoje continua escravizando através da educação, que deveria ser libertadora. Tem praia, tem mato. Tem terra, tem asfalto. Tem sem-terra. Tem circo, tem palhaço. Tem picadeiro. Tem povo. Tem espetáculo!
Mas ainda é o jeitinho brasileiro que mais me incomoda aqui. É um jeitinho de ser solidário em enchentes e que depois desrespeita o idoso na fila dobanco, no ônibus, no restaurante... Precisa de lei. De decreto para ser educado. É o jeitinho que samba junto nos quatro dias de carnaval e que depois não devolve um troco que veio errado, e quando alguém devolve o troco errado, a expressão de espanto do caixa com tamanha 'HONESTIDADE' é inevitável. É o grito unido e uníssono nas arquibancadas e torcidas organizadas e a pancadaria desordenada na guerra dos estádios.
É o país da coca, da cola, do açaí, do avião, da Skol, das favelas e das coberturas. É o Brasil coberto de favelas e descoberto de esperança. No país do Tente Outra Vez não existe guerra mas existe fome. Não existe terremoto mas a terra treme a cada final de campeonato. Não existem vulcões mas o coração do brasileiro desperta sempre em erupção. Não tem Pessoa, mas tem Bandeira. Tem várias bandeiras: brancas, negras, vermelhas e coloridas. Tem Ordem mas não tem Progresso. Tem esquecimento, tem perdão. E como brasileira legítima que sou, me esqueço do Brasil que não conheço, tenho vergonha e não desisto nunca. No país onde o atraso é um charme, não haveria surpresa alguma se fosse um gringo que tivesse me alertado para isso...

(...)
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

domingo, 3 de maio de 2009

Leve me leve...


Tempos sem postar. Escrevo para aliviar as dores da alma. E não ter escrito é um bom sinal. Devagar as coisas vão se ajeitando, se encaminhando, se resgatando. Estar feliz é muito bom. Estar feliz é estar tranquila, serena, leve. É estar completa.

Estar completa é estar suficiente. Fechada para problemas, grilos, incomodações. Mais que suficiente, estou auto-suficiente. Não no sentido de me auto-completar, mas de saber exatamente o que me completa.

Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,

E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.


(Alberto Caeiro)

domingo, 19 de abril de 2009

(Sus)piro-(Res)piro...



Já detectei a minha doença: Sofro de SCE - Síndrome da Consciência Elástica. Sou exagerada, insensível, egoísta e prepotente. E isso faz com que eu nunca tenha razão. Por isso, a razão do outro sempre será maior e melhor que a minha. As minhas linhas dicotômicas são muito tênues. Dialogo comigo mesma o tempo todo. Mas não adianta. Eu sempre estarei errada. Isso é um auto-julgamento.


(Quero um amor maior que o meu).

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Que música do Los Hermanos você é??

Fiz e gostei. Se fiz e gostei, compartilho (quase tudo) rs rs.





Los Hermanos - Todo Carnaval Tem Seu Fim



Que música do los hermanos é você?




Aí está o link... Deixem o resultado nos coments... Pra eu dar uma olhadela...


bj.

domingo, 29 de março de 2009

Mais um texto para não ser lido.


Sempre que esta janelinha se abre, me dá uma vontade louca de escrever e quase nunca tenho um motivo. Isso me dá raiva, mas, pensando bem, quem é que precisa de um motivo para escrever?
Claro que é muito mais fácil. E também é fácil sair por aí às catas de motivos. Existem infinitos. Curiosidades, notícias, programas de TV, acontecimentos, lembranças, recordações... Mas e quando você tem todo esse leque aberto e um vazio fechado dentro do peito? Por isso que inventaram a metáfora. Para se falar da mesma coisa de infinitas formas diferentes. E para se ler essa coisa de mais outras infinitas formas. A linguagem é engraçada. Todos nós estamos participando dos seus jogos sem percebermos. As intenções, os gestos, as palavras duras em voz mansa, as palavras mansas em voz dura. Estamos inseridos em uma tragédia rodriguiana em três atos e nem nos damos conta disso.
Aliás, tem um poema de Paulo Leminski que, a meu ver, é espetacular e que transcrevo abaixo:

"Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo,tudo,tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura"

Paulo Leminski

E é aí que eu me encontro com minha angústia. As letras são aquele leite materno, que é vital para nós quando recém-nascidos. Sem elas não nos comunicamos. Somos mudos com voz. A leitura dessas letras nos permite uma viagem sem volta, por mares nunca d'antes navegado. Coisas acontecem. Coisas passam. Coisas passam e nos marcam de forma violenta, pois custam a sarar. Coisas acontecem em instantes e não vão embora nunca. E não adianta. A vida segue. Não há remédio para certas dores. Não há formol para coisas vivas. O desapego do apego dói. E o que é nosso tormento, de repente passa a ser o nosso alívio. É a amargura da necessidade de escrever algo que não se materializa de forma alguma, mas o acalento de poder escrever, nem que seja uma metáfora: 'Meu pensamento é um rio subterrâneo.' (Pessoa na minha Pessoa).

quarta-feira, 18 de março de 2009

ELo EnCoNTrAdO


By FAbyANA

quinta-feira, 12 de março de 2009

Estou esperando socorro...


Coração apertado.
Eu que não tenho medo de tanta coisa, agora tenho medo de procurar a minha felicidade.
Tenho medo não encontra-la. Ela pode estar escondida embaixo da mesa, do meu travesseiro, do meu nariz.
Ela pode não existir mais. Eu posso estar me usando dela toda.
O medo é um sequestrador que não negocia resgate.
Eu tenho poucas fichas para entrar nessa aposta.
Tive os dedos das minhas mãos ceifados um a um, e agora já não sei mais com quantos posso contar.
A lua ainda está alta. O sol demora a reaparecer. As portas se entreabrem. Não sei mais o que é desespero e o que felicidade.

Preciso de auto-ajuda.

'Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.' (W.S)

domingo, 8 de março de 2009

O verso que a pena não quer escrever…

ciclo_da_vida

Hoje é um dia de término de ciclo. O ciclo da tristeza. Há um ano eu perdia para a morte o meu único sobrinho, Gustavo. Perder para a morte é triste. E há quem diga que a perda para a vida é pior. Não sei, cada um sabe da dor de seus próprios calos. Pois os meus calos doeram. E muito. Foi um ano de más lembranças. E a cada dia oito era aquele sofrimento. Mais um mês de aniversário (?) de morte. Todo o filme se reproduzindo. As dores no corpo, o sofrimento na alma, o sufoco no hospital. A angústia em saber que a morte foi o melhor. Que a vida poderia ser pior. Só quem passa por algo assim sabe o que é dor. As lembranças, os sinais, as despedidas, as suas últimas palavras que, mesmo apertadas eram de consolo. Ainda lembro muito claramente no hospital, eu, ingenuamente conversando com ele… Dizendo que sabia que ele não estava feliz mas que tudo daria certo e ele me respondendo com um sorriso: Mas eu estou feliz, tia! Foi uma lição. De vida, de amor incondicional, de aprendizado. E hoje, um ano depois da morte de seu corpo, eu sinto o Gustavo em mim, me fazendo cair em um buraco antes e provocando arranhões e impedindo que eu caísse num poço eterno, bem pior. Me soprando no ouvido, me puxando pela mão quando não mais quero levantar. Fugi inúmeras vezes dessas lembranças. Enfrentei-as outras vezes. Desenvolvi em mim fobias novas. Hoje eu tenho medo da morte. Não de morrer, mas da morte das pessoas que amo. Acabo me escravizando a suportar dores por medo de ser a última vez. Outras vezes têm sido bom. Sei, agora, pedir perdão. Não adiar problemas e desentendimentos. Mas tenho medo. E ao ouvir um Menestrel recitando Shakespeare: ‘as pessoas que amamos são tomadas de nós muito rapidamente, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras doces, pois pode ser a última vez…’ me acabo em lágrimas. Lágrimas doces e salgadas. Salgadas porque não disse a todos que queria o quanto são importamntes para mim. Doces porque tenho a tranquilidade na consciência de que disse, senti, demonstrei em TODOS os minutos que passei, longe ou perto do meu Gugui o quanto o amo intensamente.

E agora serei titi novamente… Meus sentimentos se renovam. O ciclo de dor se encerra e o Gustavo é um anjo bom, que sempre guiará os meus passos.

PS: EU ADORO VOCÊ! ( vai que você morra hoje, ou amanhã…)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Tristeza não tem fim...


Sou uma menina de sorte. Quando estou quase entregando os pontos sempre encontro um refúgio, um acalento. Acordei muito mal hoje por ter dormido mal. E dormi mal porque cansei. Ganância, egoísmo e competição acabam comigo. E como sou uma pessoa que tenho antecedentes depressivos, me cuido ao máximo para não me abalar porque quando me abalo tudo vêm à tona novamente.
Choveu. Fui para a chuva para lavar a alma. As lágrimas desaparecem na chuva. A força desaparece nas lágrimas. Não é possível viver uma meia vida. A quem eu quero enganar? Enquanto as pessoas sambam e bebem, existem milhares de crianças no hospital fazendo quimioterapia e esperando sangue ou um transplante de medula. Lembro do meu sofrimento ao pensar na família dessas crianças. E ao lembrar do meu sofrimento eu me recordo que também sou uma pessoa que sente dor. Por que eu sou compreesnsiva com a dor dos outros se a minha dor sempre é pisada e passada por cima?
A escuridão já vinha tomando conta de mim novamente quando, de repente encontro uma leitura para me distrair. Era uma repotagem sobre o Nietzsche. Sobre a pessoa Nietzsche.
Era ele me dizendo que não devemos agir como coveiros do presente. Que devemos conhecer a nossa capacidade de crescer por nós mesmos, assimilar o passado, cicatrizar as feridas, preparar perdas e reconstruir as formas destruídas. Por isso sou uma pessoa de sorte. Ninguém me disse antes que deveríamos preparar as nossas perdas, por isso sofro hoje, mas sei que de alguma forma sempre haverá aquele fiozinho de luz soprando ao meu ouvido e me mostrando a mola no fundo do meu poço.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Somos o que nos permitiram ser...


Nós somos o que nos permitiram ser. Nas minhas viagens diárias eu penso: eu poderia agora estar em um baile funk dançando o créu na velocidade cinco e ser a pessoa mais feliz do mundo. Ou quem sabe eu poderia não ter lido nada de nada e ter me contentado em apenas assistir filmes toscos e programas de televisão subproduzidos e estar completamente completa. Eu poderia me satisfazer em estar sentada em uma poltrona num dia de domingo. Será que eu seria feliz? Até onde a minha felicidade é feliz? Até onde eu me satisfaço? O que eu ainda não provei e que me faz tanta falta? Tudo isso porque acabo de ler Drummond. Eu realmente sinto muito pelas pessoas que não lêem Drummond. É como ser um anjo de uma asa só. É como ter um belo par de olhos azuis e só enxergar a escuridão. É como ter os anéis dos mais valiosos quilates e não ter dedos para distribui-los. O Drummond se apresentou a mim em mais uma aula chata de Língua Portuguesa onde, para espantar meu tédio, eu lia a apostila enquanto a professora falava, falava e falava... O tédio era tanto que nem passar bilhetinhos para as amigas me animava. Lembro-me até hoje dos quadros cor de rosa broxantes onde as letras estavam impressas. Ela falava sobre o Modernismo. Contava coisas que eu não conseguia visualizar. Eu sempre tive problemas com a arte. Preciso ser chacoalhada para conseguir senti-la, mas quando sinto é profundamente.E era a Semana da Arte Moderna em questão. Enquanto ela falava eu passava o olho nos poetas do tal movimento. O primeiro já me chamou a atenção pois falava de sapos, de um porquinho-da-índia, de balões na rua de sabão. Aquela simplicidade provocativa eu estava conseguindo visualizar. E de repente eu comecei a achar aquilo tudo engraçado. Simples. Nada de confetes, mas ao mesmo tempo muito raso, largo e profundo. Levo um susto! A professora: Fabiana, lê pra gente o poema da página tal. Putz -pensei eu – [Tomara que seja a outra Fabiana. Mas não, era a Carneiro mesmo. Quem manda ser tão faladeira, mas porque eu se eu não fiz nada hoje? Lá vou eu...] O poema era de um moço chamado Carlos. Gostei. Não eram apenas os sapos e balões que eram acessíveis nesse movimento. Os nomes também eram palpáveis, até porque eu já tinha lido alguma coisa do tal Manuel. Comecei: No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. (Essa professora está de sacanagem comigo!). Tinha uma pedra. No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei deste acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. (Nossa, que jeito lindo de se dizer vista cansada.) Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. (Essa professora deve ser a pedra no meu caminho.)No meio do caminho tinha uma pedra. Depois de terminada a minha bela leitura, a professora falou mais um pouco. Falou da colocação gramatical errônea e proposital. Etecétera e tal. Lembro-me pouco, pois corri ler na apostila o que mais tinha desse tal Carlos vírgula, Zé graça. Lembro que li o poema de sete faces, mãos dadas e os ombros suportam o mundo. Bateu o sinal e corri para a biblioteca. E como disse no início, somos o que nos permitiram ser e graças a meu pai e mãe, na biblioteca do colégio que pagavam para mim tinha As Impurezas do Branco, Carlos Drummond de Andrade. As impurezas do branco. A professora de artes precisava saber disso. E aí foi um devorar de poemas que dura até hoje. Li Drummond com a inocência de uma adolescente. Depois li Drummond com o olhar imparcial de uma estudante de Letras. Hoje leio Drummond com uma linha que oscila entre o gozo e o exame. Com meu primeiro emprego de verdade pude comprar a sua obra completa em vários volumes em capa dura e letras douradas. Conheci as crônicas. Não consigo conceber alguém que não sentiu o prazer em ler Drummond. A graça que desgraçou tantas vezes o meu coração. A secura que molhou tantas vezes a minha alma fria. A dor que alegrou dias difíceis e me embalou como aconchegante canção de ninar. Hoje o Modernismo está fora de moda, mas mesmo assim e apesar de dar aulas de inglês, sempre cito alguns versos em horas apropriadas, em cadernos de recordação, em bate-papos na hora do recreio. E a cada (re)leitura eu me renovo. Talvez porque refaço toda essa viagem que acabo de contar aqui, muito singelamente. Volto aos meus quinze anos e não lembro o que me fazia feliz no ensino fundamental, além da bruxa Onilda, do menino do dedo verde, do pequeno príncipe e de um livro chamado: Fabiana na floresta, o qual tinha meu nome umas dezessete vezes na ficha de empréstimo. Lembro que eu mergulhava em análises sintáticas que uma professora apaixonada me fez apaixonar. Era como se eu estivesse resolvendo a equação mais difícil do mundo e eu sabia a solução. Pedro é feliz com seus dois cachorros cinza. Sujeito simples. Oração absoluta. Mas essa outra paixão eu deixo para outra hora. Ofereço a você que até aqui leu, um poema do Drummond. Fantástico. Espero que você coma a carne, roa o osso e lamba os beiços. E seja feliz! Não é o créu mas precisa ter disposição e habilidade. Hahaha. Afinal é muito mais que apenas cinco velocidades.

Nosso Tempo

Carlos Drummond de Andrade

I

Este é tempo de partido,

tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,

viajamos e nos colorimos.

A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.

Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.

As leis não bastam. Os lírios não nascem

da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.

Onde te ocultas, precária síntese,

penhor de meu sono, luz

dormindo acesa na varanda?

Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo

sobe ao ombro para contar-me

a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.

As coisas talvez melhorem.

São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.

Tenho palavras em mim buscando canal,

são roucas e duras,

irritadas, enérgicas,

comprimidas há tanto tempo,

perderam o sentido, apenas querem explodir.

II

Este é tempo de divisas,

tempo de gente cortada.

De mãos viajando sem braços,

obscenos gestos avulsos.

Mudou-se a rua da infância.

E o vestido vermelho

Vermelho

cobre a nudez do amor,

ao relento, no vale.

Símbolos obscuros se multiplicam.

Guerra, verdade, flores?

Dos laboratórios platônicos mobilizados

vem um sopro que cresta as faces

e dissipa, na praia, as palavras.

A escuridão estende-se mas não elimina

o sucedâneo da estrela nas mãos.

Certas partes de nós como brilham! São unhas,

anéis, pérolas, cigarros, lanternas,

são partes mais íntimas,

a pulsação, o ofego,

e o ar da noite é o estritamente necessário

para continuar, e continuamos.

III

E continuamos. É tempo de muletas.

Tempo de mortos faladores

e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,

mas ainda é tempo de viver e contar.

Certas histórias não se perderam.

Conheço bem esta casa,

pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,

a sala grande conduz a quartos terríveis,

como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,

conduz à copa de frutas ácidas,

ao claro jardim central, à água

que goteja e segreda

o incesto, a bênção, a partida,

conduz às celas fechadas, que contêm:

papéis?

crimes?

moedas?

o conta, velha preta, ó jornalista, poeta, pequeno historiador urbano,

ó surdo-mudo, depositário de meus desfalecimentos, abre-te e conta,

moça presa na memória, velho aleijado, baratas dos arquivos, portas rangentes, solidão e asco,

pessoas e coisas enigmáticas, contai,

capa de poeira dos pianos desmantelados, contai;

velhos selos do imperador, aparelhos de porcelana partidos, contai;

ossos na rua, fragmentos de jornal, colchetes no chão da costureira, luto no braço, pombas, cães errântes, animais caçados, contai.

Tudo tão difícil depois que vos calastes...

E muitos de vós nunca se abriram.

IV

É tempo de meio silêncio,

de boca gelada e murmúrio,

palavra indireta, aviso

na esquina. Tempo de cinco sentidos

num só. O espião janta conosco.

É tempo de cortinas pardas,

de céu neutro, política

na maçã, no santo, no gozo,

amor e desamor, cólera

branda, gim com água tônica,

olhos pintados,

dentes de vidro,

grotesca língua torcida.

A isso chamamos: balanço.

No beco,

apenas um muro,

sobre ele a polícia.

No céu da propaganda

aves anunciam

a glória.

No quarto,

irrisão e três colarinhos sujos.

V

Escuta a hora formidável do almoço

na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.

As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.

Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!

Os subterrâneos da tome choram caldo de sopa,

olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.

Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,

mais tarde será o de amor.

Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.

O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.

Multidões que o cruzam não vêem. É sem cor e sem cheiro.

Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,

vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,

toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.

Escuta a hora espandongada da volta.

Homem depois de homem, mulher, criança, homem,

roupa, cigarro, chapéu, roupa, roupa, roupa,

homem, homem, mulher, homem, mulher, roupa, homem

imaginam esperar qualquer coisa,

e se quedam mudos, escoam-se passo a passo, sentam-se,

últimos servos do negócio, imaginam voltar para casa,

já noite, entre muros apagados, numa suposta cidade, imaginam.

Escuta a pequena hora noturna de compensação, leituras, apelo ao cassino, passeio na praia,

o corpo ao lado do corpo, afinal distendido,

com as calças despido o incômodo pensamento de escravo,

escuta o corpo ranger, enlaçar, refluir,

errar em objetos remotos e, sob eles soterrado sem dor,

confiar-se ao que-bem-me-importa

do sono.

Escuta o horrível emprego do dia

em todos os países de fala humana,

a falsificação das palavras pingando nos jornais,

o mundo irreal dos cartórios onde a propriedade é um bolo com flores,

os bancos triturando suavemente o pescoço do açúcar,

a constelação das formigas e usurários,

a má poesia, o mau romance,

os frágeis que se entregam à proteção do basilisco,

o homem feio, de mortal feiúra,

passeando de bote

num sinistro crepúsculo de sábado.

VI

Nos porões da família,

orquídeas e opções

de compra e desquite.

A gravidez elétrica

já não traz delíquios.

Crianças alérgicas

trocam-se; reformam-se.

Há uma implacável

guerra às baratas.

Contam-se histórias

por correspondência.

A mesa reúne

um copo, uma faca,

e a cama devora

tua solidão.

Salva-se a honra

e a herança do gado.

VII

Ou não se salva, e é o mesmo. Há soluções, há bálsamos

para cada hora e dor. Há fortes bálsamos,

dores de classe, de sangrenta fúria

e plácido rosto. E há. mínimos

bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,

lesões que nenhum governo autoriza,

não obstante doem,

melancolias insubornáveis,

ira, reprovação, desgosto

desse chapéu velho, da rua lodosa, do Estado.

Há o pranto no teatro,

no palco? no público? nas poltronas?

há sobretudo o pranto no teatro,

já tarde, já confuso,

ele embacia as luzes, se engolfa no linóleo,

vai minar nos armazéns, nos becos coloniais onde passeiam ratos noturnos,

vai molhar, na roça madura, o milho ondulante,

e secar ao sol, em poça amarga.

E dentro do pranto minha face trocista,

meu olho que ri e despreza,

minha repugnância total por vosso lirismo deteriorado,

que polui a essência mesma dos diamantes.

VIII

O poeta

declina de toda responsabilidade

na marcha do mundo capitalista

e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas

promete ajudar

a destruí-lo

como uma pedreira, uma floresta,

um verme.

sábado, 31 de janeiro de 2009

O vírus do amor...



Assim como dizem que você só conhece alguém quando se separa, você só conhece o amor quando tenta se separar e não consegue. O amor é aquele suspiro involuntário que aparece com a aparição do ser amado. E aí você pensa: 'Pronto, estou a salvo!'. É aquele olhar de compreensão sem precisar dizer uma só palavra. É você não conseguir lembrar-se da sua vida antes daquela foto de anos atrás, ainda do tempo do filme de poses, onde timidamente estão sentados em uma rede.

Certa vez li uma reportagem onde dizia que as mesmas substâncias que povoam o nosso organismo na hora do orgasmo são as que matam a paixão. E depois de várias explicações médicas e técnicas me convenci de que isso é bem provável e talvez explique várias outras coisas. Mas a que mais me chamou atenção foi essa de que o prazer mata a paixão. E podemos também pensar com isso que se a sua paixão sobreviveu a extremos bombardeios de prazer, é porque tinha paixão de sobra aí... E paixão de sobra, além de tantos outros problemas e uma vez bem administrada, com certeza se transforma nessa doença chamada amor.

E aí você sai, se distrai, ri, bebe um pouco, bebe bastante e tudo o que te rodeia, além de todos à sua volta por conta dos goles a mais, é a certeza de que aquela pessoa que te acompanha a anos é a que te completa. Ou a que te incompleta, como preferir. E quando você se apaixona até pelos defeitos então, é caixão! Aí já era...

Para finalizar, o meu discurso sempre foi em favor do amor. É ele que move o mundo. Que move o meu mundo. Sem ele não sou, não vivo e nem respiro. Ainda que me traga sempre toda a dor e a incerteza que é capaz de me trazer...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


Eu acho que sou meio HOBBES...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Parem o mundo! Eu quero descer!


Pasmem!!

Pessoas, atenção! eu sou só mais um rostinho belo que anda por aí!!

Não sou uma ameaça!
Não vou te trocar, nem te trair (a não ser que sob minha sensata balança isso seja justo).
Nem roubar teu namorado, nem te roubar (fala sério!).
Nem roubar teu emprego, nem tua cadeira (já conquistei a minha).
Nem fazer nada que você não queira! ( Oh yeah!)

Eu só saio por aí gargalhando de tudo porque a vida é leve!
E eu posso sim rir de tudo porque já senti lágrimas de dor saíndo da minha alma.
Eu só saio debochando de você porque a vida é um deboche!
Não quero teus bens materiais/sagrados. Eu conquisto sozinha.
E muito fácil! E nada sob pena de tortura!
Quero roubar o teu sossego, a tua paz, a tua admiração!
O teu sono, a tua leveza, a tua delicadeza!
A tua inveja, a tua luxúria, a tua gana!
O teu ódio, a tua preguiça, a tua cobiça!
Não quero luxo, nem lixo!

E agora, baby, eu estou no comando!
Apertem os cintos: A Fabiana acordou do seu sono profundo!
E ela está faminta!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Gaiola de loucos!


Já faz algum tempo que não preparo nada para postar aqui... Simplesmente chego aqui e descarrego um amontoado de palavras... E publico. Enfim, pelo menos assim, embora esteja escrevendo sozinha, não me sinto falando sozinha, e nem tenho medo de ter que engolir o que não terminei de dizer.


Eu precisava do ponto de apoio que Arquimedes tanto pediu. Ele deve existir. E deve estar dentro de mim. Será que eu sou o ponto de apoio que move o mundo, o mundo de várias pessoas?? Eu fico muda. Eu escuto. Eu não sei o que pensar.

Os problemas resolvem-se sozinhos. Basta estar distraído. Claro que podemos sempre dar uma mãozinha, mas tudo se resolve. Assim como não há perdão para o chato, só não há solução para a morte, pelo menos para os vivos, porque os mortos já encontraram essa solução.

Me chamou muito a atenção em como os nossos sentimentos nos movem. E como pessoas fortes se enfraquecem também. E como a nossa infância é cruel. Ela nos cria uma visão de mundo totalmente errônea. Aí crescemos e pronto: tudo desmorona-se. Nossos heróis viram gente de carne e osso como nós, e muitas vezes muito piores. Sinto um misto de pena e inveja das crianças. Tão despreocupadas e tão iludidas. Era uma vez e viveram felizes para sempre... Mas nem sempre é assim! Quase nunca! Que coisa!

O que eu vejo são pessoas doentes. Com dor na alma. Ou será que EU era tão feliz que não via esse sofrimento nas pessoas?


Vai saber... Eu hein?? Quero ficar de fora de mais esse problema...

O mundo está uma verdadeira gaiola de loucos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009


A morte anda à solta.
E não é você quem ela quer.
Ela quer quem você mais ama.
Pra te fazer sentir dor de verdade.
Pra te fazer parar com toda essa futilidade.

A cada aniversário, enquanto você acrescenta uma vela a mais no bolo, a morte vem e te tira.
Tira a vela que você acabou de assoprar.
Mas não é você quem ela quer.
Ela quer quem você mais quer.
Pra te fazer sofrer.

Esteja sempre com um olho aberto e o outro arregalado.
Com uma mão na frente e a outra além.
Proteja com unhas e caninos os teus mais preciosos quilates.
Porque depois da primeira dor, a dor é eterna.
E a qualquer momento ela pode acentuar.




A morte está comigo agora. Quem ela quer levar?

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ordem e Progresso (Ou desejos para um novo ano-novo)


Postarei aqui os meus mais sinceros desejos para esse novo ano. Aí vai o primeiro:

Organização: Meu maior defeito é a falta dela. Procuro sempre um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar, mas eu nunca encontro a coisa. Nem o lugar. Encontro desculpas: falta de espaço, falta de tempo, falta de costume. Na verdade eu vivo na desorganização do meu mundo. Na verdade, um mundo organizado para uma pessoa desorganizada não é uma coisa assim tão simples. Ao procurar um amarrador de cabelos em um lar organizado, demorei mais para encontrar o lugar certo deles do que levaria para encontrar na minha bagunça. Os meus estão sempre visíveis, à mostra, ou seja, todos espalhados. Onde quer que eu vá encontro um. Às vezes eu nem preciso deles e mesmo assim os encontro. Está certo, às vezes eu preciso deles e não encontro nem um bendito. Mas isso é só às vezes e aí vem uma teoria que defendo que as coisas inanimadas criam vida própria depois de algum tempo abandonadas. Deixemos isso para outro dia. Atalhando: Desejo para 2009 um ano organizado, mesmo sabendo que me perco na ordem e me encontro na desordem. Em tempo: as pessoas pegam no meu pé porque eu não costumo ter em meu estojo impecável de professora, a organização das tampas nas minhas canetas. Oras bola! (gíria idosa!). Que coisinha mais inútil essas tampas de caneta! A primeira coisa que faço quando compro/ganho uma caneta nova é dar um fim em sua tampa. Claro que existem exceções. Canetas tinteiro precisam de tampas para não secarem a sua tinta. Assim como algumas panelas que precisam de tampas para fazer secar o que está sendo feito nelas. As outras são todas como frigideiras, embora só exista um tipo de frigideira em seus vários tamanhos. E aí me perguntam: Por que você não tem tampas nessas canetas? E eu: Prá que serve? Ah, para não vazar a tinta! Oras fulano (a), se ela for vazar, ela vazará com ou sem tampa. Esse é o seu destino: manchar a sua vida e talvez a sua roupa, mão ou aquele documento importante. Simples assim. Tampas de caneta me irritam. Não são práticas. Dois trabalhos a mais em um mundo tão cheio de coisas a se fazer: tampar e destampar. Acabo de perceber que escrevo com uma caneta estilo ‘TIC TIC’ (você com certeza já se irritou com esse barulhinho...). A melhor invenção em canetas. Viram como as tampas são supérfluas? E ainda ajudam a poluir o meio-ambiente. Pensando bem, nem toda a falta de organização é nociva... Que venha a organização saudável!! E que eu não me perca nela!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Cidades Impossíveis...


Pois é galera... Agora eu estou também em CIDADES IMPOSSÍVEIS. O link está aí do ladinho... Vale a pena dar uma conferida lá... O povo é fera. E esse é o meu texto de estréia lá... Bem estréia mesmo... hehehehe

=)


‘E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana’. (Drummond)

Cidades Impossíveis Cidades. Impossível não carregar junto conosco uma herança do nosso berço esplêndido. E o meu berço esplêndido é Caçador. Isso mesmo, Caçador. Já estou acostumada com as reações. Quanto mais longe vou, mais estranha fica a face de quem me pergunta de onde eu sou. O engraçado é que não foi Caçador quem me acolheu no momento em que comecei a dar os meus primeiros passos sozinha. Os passos da independência, do início da construção do meu futuro. Foi em uma cidade gêmea, a quase cem quilômetros dali que ‘fui encontrar o mundo’, como bem disse o pai de Sérgio, no livro O Ateneu. E com muita coragem para a luta eu vivi nesta cidade, Porto-União-da-Vitória os mais inesquecíveis anos da minha vida. Amigos, experiências, dificuldades, mancadas, alegrias... Tudo eu vivi lá. E trago comigo as maravilhosas lembranças, bem como as verdadeiras amizades. E Caçador ficou distante. Tão distante de mim que até minha carteira de identidade, com segunda via expedida em Porto União, já não me fazia lembrar dela. Foram quatro anos. E, de repente, Porto-União-da-Vitória ficou pequena para mim. E eu já não cabia em Caçador. Aventurei-me por Calmon, com o sonho de alfabetizar em Português e Inglês doces criancinhas que moravam em uma cidade tão pequenina, mas tão hospitaleira. Ficava imaginando eles chegando em casa falando: Hi dad, hi mom, I want a coke and a hot-dog. O sonho foi interrompido. Ainda bem, senão estariam obesos. Calmon ficou minúsculo em menos de dois meses. A capital me chamava. A Ilha gritava por mim. As cidades são impossíveis. Os sonhos não. E menor que meu sonho não posso ser, já dizia Lindolf Bell, um poeta amante de sua cidade. Fui na sexta, segunda estava trabalhando. E esta cidade, maravilhosa por si só, me adoeceu, me fez sentir náuseas, febres, dores musculares. Era muito impossível para mim. Lá estava eu: conhecia um par de pessoas, tinha um trabalho de 20 horas, onde, em um dia trabalhava oito horas/aula e pegava dez ônibus. Fiquei doente, a doença da cidade grande: Yes, I’m a workaholic! Sim, isso mesmo. Sou uma workaholic em tratamento. Em dois anos, sempre com carga horária lotada, inclusive nos finais de semana, o trabalho me viciou. Tanto que meu tempo livre foi para estudar para concursos públicos. Sim, estou assumindo o terceiro. Sim, não quis morar em Itapema, no sossego da doce Itapema. Água-de-coco, beira do mar, sossego. Cruzes!! Mas como disse, estou em tratamento. Consultei algumas pessoas confiáveis, uma perguntinha aqui, outra dúvida acolá e, em um momento de depressão profunda, me tranquei em um quarto estranho e pari um projeto para o Mestrado em três dias. Deu certo. É o início do meu tratamento. E o início da realização de mais um objetivo, ainda que seja o trabalho que esteja me motivando. As cidades nos causam traumas e realizações. Somos afetados por elas em nosso dia-a-dia. E não nos damos conta disso. De Caçador eu trago em mim esse sotaque arrastado, quadrado. Esse erre puxado que às vezes escapa entre os manés. Como é difícil pronunciar barbershop! Barrrberrrrshop! É isso mesmo! Sou de Caçadorrrr! E lá a gente fala assim. Em Nova Yorrrk talvez não. E em Chicago?? Enfim, hoje a dor me toma quando volto a Caçador de férias. É um cenário morto, onde minha família ainda vive. E continuam achando o melhor lugar do mundo. Para mim é pequena. E fria. E triste. E como eu fui feliz lá! E Raul Pompéia é genial quando nos diz no ainda mesmo romance citado:

“Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.

Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo - a paisagem é a mesma de cada lado beirando a estrada da vida.”

A paisagem é a mesma em cada Cidade Impossível. Nossos sonhos é que mudam. E os dias melhores sempre ficarão para trás, não importa em qual lado você esteja na estrada da vida. Depois de tanta estrada, eu ainda não aprendi a criar raízes. Uma cidade é realmente impossível para mim. Preciso de várias. Caçador, Porto União, União da Vitória, Calmon, Itapema, Floripa, São José e agora Biguaçu chamando por mim. E em cada cidade impossível, uma história possível, com personagens e traumas novos.