domingo, 29 de março de 2009

Mais um texto para não ser lido.


Sempre que esta janelinha se abre, me dá uma vontade louca de escrever e quase nunca tenho um motivo. Isso me dá raiva, mas, pensando bem, quem é que precisa de um motivo para escrever?
Claro que é muito mais fácil. E também é fácil sair por aí às catas de motivos. Existem infinitos. Curiosidades, notícias, programas de TV, acontecimentos, lembranças, recordações... Mas e quando você tem todo esse leque aberto e um vazio fechado dentro do peito? Por isso que inventaram a metáfora. Para se falar da mesma coisa de infinitas formas diferentes. E para se ler essa coisa de mais outras infinitas formas. A linguagem é engraçada. Todos nós estamos participando dos seus jogos sem percebermos. As intenções, os gestos, as palavras duras em voz mansa, as palavras mansas em voz dura. Estamos inseridos em uma tragédia rodriguiana em três atos e nem nos damos conta disso.
Aliás, tem um poema de Paulo Leminski que, a meu ver, é espetacular e que transcrevo abaixo:

"Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo,tudo,tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura"

Paulo Leminski

E é aí que eu me encontro com minha angústia. As letras são aquele leite materno, que é vital para nós quando recém-nascidos. Sem elas não nos comunicamos. Somos mudos com voz. A leitura dessas letras nos permite uma viagem sem volta, por mares nunca d'antes navegado. Coisas acontecem. Coisas passam. Coisas passam e nos marcam de forma violenta, pois custam a sarar. Coisas acontecem em instantes e não vão embora nunca. E não adianta. A vida segue. Não há remédio para certas dores. Não há formol para coisas vivas. O desapego do apego dói. E o que é nosso tormento, de repente passa a ser o nosso alívio. É a amargura da necessidade de escrever algo que não se materializa de forma alguma, mas o acalento de poder escrever, nem que seja uma metáfora: 'Meu pensamento é um rio subterrâneo.' (Pessoa na minha Pessoa).

3 comentários:

  1. E como não ler, mesmo sendo um texto para não ser lido? As palavras... acabam sendo como que uma inevitabilidade, como respirar. Mas assim como um odor ruim atrapalha a respiração, palavras mal ditas ou escolhidas podem fazer mal. Não é o caso das suas.
    Abção
    Guga
    http://tchubaduba.blogspot.com/

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  2. Não era para ser lido mas foi, adorei o texto.
    O Paulo Leminsk é um escritor fantástico, e por curiosidade, to começando a ler um livro dele agora.
    Gostei do Blog moça.
    Beijos.

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  3. problemas criativos?
    poderia começar por aí: "O desapego do apego dói."

    gostei do blog.

    8)

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